Danos ambientais causam aumento do risco de conflitos e desalojamento para 1,26 bilhão de pessoas

Danos ambientais causam aumento do risco de conflitos e desalojamento para 1,26 bilhão de pessoas

PR Newswire

LONDRES, 21 de outubro de 2021

LONDRES, 21 de outubro de 2021 /PRNewswire/ -- Hoje marca o lançamento do segundo Registro de Ameaças Ecológicas (ETR), do think tank internacional, o Instituto de Economia e Paz (IEP).

Principais resultados 

Para compreender melhor os países com maior risco de enfrentar deteriorações significativas na paz, o ETR analisa uma ampla gama de indicadores associados ao risco ecológico, incluindo disponibilidade de alimentos e água, crescimento populacional e resiliência social.  

Conflitos e ameaças ecológicas

A principal descoberta do ETR 2021 é de que existe uma relação cíclica entre a degradação ecológica e os conflitos. É um ciclo vicioso, pelo qual a degradação dos recursos leva a conflitos, levando a uma maior degradação dos recursos. Onze dos 15 países com as piores pontuações no ETR estão atualmente vivendo conflitos. Outros quatro estão classificados com alto risco de queda substancial no quesito paz. Vários outros países deverão entrar em conflito, a menos que esses ciclos sejam revertidos.

Para reverter esses ciclos, o ambiente ecológico e a resiliência social precisam ser aprimorados, o que requer uma abordagem sistêmica. Isso significa uma reavaliação de como os desenvolvimentos são implementados atualmente.

Evidenciando a gravidade dos resultados, o número de pessoas que sofrem de desnutrição tem aumentado gradualmente desde 2016 e estima-se que aumente em 343 milhões de pessoas até 2050, provocando outro fator para conflitos. A insegurança alimentar também aumentou para 30,4% da população mundial, de acordo com a FAO.[1] Isso demonstra a reversão de uma tendência de melhorias constantes nos níveis de subnutrição observada ao longo de décadas. A desnutrição é mais grave para os homens, especialmente na África, onde o dobro dos homens sofre de subnutrição em relação às mulheres. A atrofia também é mais grave em meninos do que em meninas.

Três áreas do mundo estão sob maior risco de colapso social em consequência da insegurança alimentar, da falta de água, do crescimento populacional e dos impactos dos desastres naturais. São elas: o cinturão do Sahel-Chifre da África, da Mauritania à Somália; o cinturão da África Austral, de Angola a Madagascar; o cinturão do Oriente Médio e da Ásia Central, da Síria ao Paquistão. Essas áreas precisam urgentemente de atenção.

A África Subsaariana tem a maior incidência de insegurança alimentar, com 66% da população considerada em situação de insegurança alimentar. Até 2050, estima-se que a população da África Subsaariana será de 2,1 bilhões, um aumento de 90% na população atual. A região também apresenta as medidas de resiliência social mais precárias.

O Sahel é o próximo alvo de um potencial colapso social, conforme demonstrado pela recente proliferação de grupos islâmicos radicais. Níger e Burkina Faso estão atualmente entre os países menos pacificados do mundo (avaliação do GPI) e estão entre os piores pontuadores no ETR.

Ameaça ecológica e migração

O ETR concluiu que mais de 1,26 bilhão de pessoas vivem em 30 países em crise, sofrendo de risco ecológico extremo e baixos níveis de resiliência. É menos provável que esses países sejam capazes de mitigar e adaptar-se a novas ameaças ecológicas, o que provavelmente causará deslocamentos em massa.

O número de pessoas refugiadas pelos conflitos tem aumentado constantemente, com 23,1 milhões de pessoas provenientes de países em crise vivendo fora de seu país de origem em 2020. A Europa abrigava o maior número de refugiados de países em crise, com 6,6 milhões de pessoas. Esses números provavelmente aumentarão em dezenas de milhões, à medida que a degradação ecológica e as mudanças climáticas ganharem força.

Steve Killelea, fundador e presidente executivo do Instituto de Economia e Paz , afirmou:

"A COP26 oferece uma oportunidade ideal para os líderes reconhecerem que as ameaças ecológicas de hoje precisam ser abordadas antes que as mudanças climáticas as acelerem substancialmente, com custos extras na ordem de trilhões para serem solucionadas. 

"A solução para esses problemas está em uma abordagem mais sistêmica, em parte por meio da integração consciente das agências de desenvolvimento. Os problemas de conflitos, insegurança alimentar e hídrica, deslocamentos, desenvolvimento de negócios, saúde, educação e as mudanças climáticas propriamente ditas estão inter-relacionados, e a interligação dessas relações deve ser reconhecida para que sejam melhor abordados." 

Posicionamentos em relação às mudanças climáticas

Uma nova pesquisa com mais de 150 mil pessoas em 142 países revelou que os países que emitem os maiores volumes de dióxido de carbono são aqueles em que seus cidadãos estão menos preocupados com as mudanças climáticas. São também alguns dos países mais populosos do mundo. Apenas 23% dos cidadãos da China consideram as mudanças climáticas uma ameaça muito séria, enquanto na Índia a taxa é de apenas 35%. A média global é de 49,8%, com os homens um pouco mais (2%) preocupados do que as mulheres.[2]

Sem a adesão dos cidadãos desses países, é improvável que as ações contra as mudanças climáticas sejam eficazes.

Os países de língua espanhola e portuguesa obtiveram as maiores pontuações e ocupam 12 dos 20 primeiros lugares. Os países em conflito pontuaram mal, com Iêmen, Etiópia, Egito e Mianmar recebendo as piores pontuações.

Os Estados Unidos tiveram uma pontuação próxima da média global de 49,2%, enquanto o Reino Unido teve uma pontuação relativamente alta de 69,9%.

A maior disparidade de gênero ocorreu nos países escandinavos da Noruega, Suécia e Finlândia, onde as mulheres tiveram pontuação superior à dos homens em 21%, 18% e 13%, respectivamente.

Insegurança alimentar

Desde 2014, o número de pessoas sem acesso a alimentos adequados em todo o mundo tem aumentado a cada ano, com um aumento de 44%. O aumento da insegurança alimentar está associado à deterioração da paz. 

Até 2050, a demanda global por alimentos deverá ter um aumento de 50%.

Devido a lockdowns e fechamentos de fronteiras, a COVID-19 ampliou ainda mais a insegurança alimentar e provavelmente terá um impacto negativo de longa duração sobre a fome mundial devido ao crescimento econômico estagnado.

Estresse hídrico 

O ETR revela que em 2040 mais de 5,4 bilhões de pessoas viverão em países sob estresse hídrico extremo. O Líbano e a Jordânia são os países mais ameaçados.

A África Subsaariana é a região com o maior número de países com os níveis mais baixos de resiliência social combinados com o maior crescimento populacional. Setenta por cento de sua população sofre de acesso inadequado a água gerenciada de forma segura, o que será agravado pelo alto crescimento populacional.

Construindo resiliência ecológica

A IEP trabalhou com 60 importantes partes interessadas para desenvolver recomendações de políticas que promovam a resiliência ecológica global. Entre elas, a recomendação de combinar saúde, alimentos, água, assistência a refugiados, finanças, agricultura e desenvolvimento de negócios em uma agência integrada em áreas de alto risco. Dessa forma, é possível reconhecer a natureza sistêmica dos problemas e soluções, permitindo uma alocação mais eficiente de recursos e tomada de decisão mais rápida com base na área geográfica da necessidade.

Embora as intervenções militares sejam necessárias, elas não resolverão os problemas ecológicos estruturais que estão na origem dos conflitos. A lição do Afeganistão é de que, sem gastos de desenvolvimento bem planejados e executados, é impossível alcançar a paz. A recente queda do Afeganistão para o Talibã evidencia os limites dos militares e expõe uma estratégia de gastos inadequada. Estima-se que o total de despesas federais dos EUA no Afeganistão tenha custado 2,261 trilhões de dólares, equivalente a 50 mil dólares para cada cidadão afegão que vive atualmente no país. Esse valor corresponde a mais de cem vezes a renda média anual do Afeganistão.

Para mais informações, acesse www.economicsandpeace.org

*Os 11 países com a pior pontuação no ETR são Afeganistão, Níger, Madagascar, Malawi, Ruanda, Burundi, Guatemala, Moçambique, Paquistão, Angola e Iêmen.

NOTAS AOS EDITORES 

Sobre o Registro de Ameaças Ecológicas (ETR)

Esta é a segunda edição do Registro de Ameaças Ecológicas (ETR), que abrange 178 estados e territórios independentes. O ETR é único pelo fato de combinar medidas de resiliência com os dados ecológicos mais abrangentes disponíveis para lançar luz sobre os países menos propensos a lidar com choques ecológicos extremos, agora e no futuro.

Metodologia

O ETR integra as pesquisas científicas mais recentes e respeitadas sobre crescimento populacional, estresse hídrico, insegurança alimentar, secas, inundações, ciclones e aumento de temperatura. Além disso, o relatório utiliza a estrutura de Paz Positiva do IEP para identificar áreas nas quais é improvável que a resiliência seja forte o suficiente para se adaptar ou fazer frente a esses choques futuros. O relatório baseia-se em uma ampla variedade de fontes de dados, como Banco Mundial, Instituto de Recursos Mundiais, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, as Nações Unidas, Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Organização Internacional para as Migrações e IEP.

Sobre o Instituto de Economia e Paz

IEP é um think tank internacional e independente dedicado a mudar o foco do mundo para a paz como uma medida positiva, alcançável e tangível do bem-estar e do progresso humano. O grupo tem escritórios em Sydney, Bruxelas, Nova York, Haia, Cidade do México e Harare.

[1]  Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

[2]  Análise IEP, fonte de dados: Pesquisa de Risco Mundial da Lloyds Register Foundation

 

 

 

FONTE Institute of Economics and Peace

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