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SÃO PAULO, 20 de março de 2023
Maria Alice Lelis, doutora em Ciências da Saúde e enfermeira consultora da marca TENA, líder mundial em produtos para incontinência urinária, explica que cursos livres sobre cuidados, além de preparar cuidadores familiares e atualizar os profissionais, são ferramenta importante não só para o preparo técnico, mas também para o fortalecimento emocional de quem se dedica a cuidar de idosos.
SÃO PAULO, 20 de março de 2023 /PRNewswire/ -- Levantamento do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio) revelam que a ocupação de Cuidador de Idosos foi a que mais cresceu no Brasil ao longo de uma década. A partir desses dados, um estudo realizado pela SeniorLab mercado & consumo 60+ revelou que a porção das pessoas que desempenha a atividade de forma remunerada equivale a somente 5%, sendo os outros 95% cuidadores familiares não-remunerados, que se dedicam a acompanhar idosos em graus de dependência II e III. Considera-se grau II aqueles que dependem de alguém em até três atividades básicas da vida diária, e grau III idosos com dependência em todas as atividades básicas da vida diária, ou idosos com comprometimento cognitivo.
De acordo com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), estima-se que o número de cuidadores não remunerados seria próximo de 4 milhões de pessoas em 2020, enquanto estresse e sobrecarga são dados preocupantes na rotina dos cuidadores: 57% deles se dedicam ao idoso entre 13 e 24 horas por dia. Junta-se a isso o fato de que essas pessoas, a princípio, não possuem conhecimentos técnicos sobre cuidados com a saúde em geral, ou específicos sobre atenção e bem-estar do idoso, algo que se revela indispensável na rotina de dedicação e pode ajudar na organização do dia a dia.
Do lado dos cuidadores, nota-se um aumento na procura por informação que os ajude a realizar as atividades de forma segura e adequada. No ano passado, o curso Cuidado & Conforto com TENA, que oferece videoaulas gratuitas e online ministradas por profissionais especializados no atendimento aos idosos, registrou um aumento de 33% no número de inscrições em relação ao ano anterior. E a tendência é de um crescimento ainda maior neste ano, pois apenas nos dois primeiros meses de 2023, o curso já conta com 103% de matrículas a mais em comparação ao mesmo período de 2022.
Quais os principais desafios dos cuidadores de idosos familiares e dos profissionais? Como as pessoas podem se preparar, técnica e emocionalmente, para se dedicar a essa função com menos estresse? É isso e muito mais que a Doutora em Ciências da Saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Maria Alice Lelis, enfermeira consultora da marca TENA, explica nesta entrevista.
1. Maria Alice, primeiramente, quem são os cuidadores de idosos no Brasil?
Maria Alice Lelis - O cuidador de idosos é a pessoa, da família ou contratada, que presta cuidados à pessoa idosa que, por apresentar limitações físicas ou cognitivas, necessita de auxílio nas atividades da vida diária.
O cuidador é fundamental para o atendimento às necessidades do idoso fragilizado, respeitando sua autonomia e independência. No Brasil, a maioria expressiva dos cuidadores é de familiares das pessoas que recebem os cuidados, e são chamados de cuidadores familiares. Já os cuidadores formais, contratados e remunerados, representam uma pequena parcela. Além disso, a profissão de cuidador de idosos ainda não está regulamentada no Brasil.
Artigo da Revista de Saúde Pública da USP1 descreve que "O cuidado continua sendo uma questão familiar (94,1%) e feminina (72,1%); apesar das importantes mudanças ocorridas na sociedade, ainda há insuficiência de políticas de cuidado voltadas para essa área. Dos cuidadores, 25,8% referiram parar de trabalhar ou estudar para exercer essa função; e apenas 9,2% eram remunerados". Ser cuidador não é tarefa fácil, requer conhecimento, olhar atento, empatia, paciência e atenção.
2. Maria Alice, como alguém pode se preparar e desenvolver habilidades técnicas para desempenhar a função de cuidar de maneira adequada?
Maria Alice Lelis - Temos aqui duas situações distintas: a do cuidador familiar, que passa a desempenhar um papel para o qual não estava preparado, e a do cuidador profissional, que trabalha como cuidador e recebeu formação básica sobre o tema. No primeiro caso, o cuidador familiar estará diante de um novo cenário, em um contexto emocional intenso e precisará de todas as informações para o cuidado ao idoso. Em um contexto ideal, essas informações são fornecidas por profissionais de saúde, mas no dia a dia, surgem dúvidas e novas demandas a respeito da alimentação, higiene, sono, incontinência, atividades que possam estimular o idoso. Um curso com informações atualizadas sobre temas relacionados ao cuidado ao idoso contribui para a realização das atividades de forma segura e adequada.
O cuidador profissional também precisa buscar informações para se manter atualizado. Ao atuar em uma residência ou em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), é necessário compreender que os idosos têm diferentes necessidades e demandas de cuidado, além de serem únicos como pessoas.
3. Você acredita que esse aprendizado técnico do cuidado, essa capacitação para a atividade, pode contribuir de alguma forma para o fortalecimento emocional do cuidador? Segundo um artigo2 da Revista Brasileira de Epidemiologia, o despreparo técnico e psicológico para a função pode levar à negligência com o autocuidado e com a assistência à pessoa cuidada.
Maria Alice Lelis - Naturalmente, para exercer a função de cuidador, é necessário preparo técnico e emocional. Um estudo da SeniorLab mercado & consumo 60+ (publicada pelo Instituto de Longevidade), identificou que 57% dos cuidadores dedicam-se ao idoso entre 13 e 24 horas diárias, exercendo uma sobrecarga de trabalho que reflete tanto na saúde do próprio cuidador como nos cuidados prestados ao idoso.
Por exemplo, uma família é surpreendida por uma situação de doença, seguida de internação. Na alta hospitalar, ao retornar ao domicílio, o idoso necessita de cuidados específicos para sua recuperação. É um momento de vulnerabilidade, não só do idoso, mas também da família que o cerca.
Nesta realidade, frequentemente, um familiar assume imediatamente todos os cuidados. A jornada de trabalho é diária, e muitas vezes esta pessoa não tem com quem revezar. Em alguns casos, outros membros da família atuam como cuidadores secundários, ou cuidadores profissionais são contratados. Com frequência, uma pessoa já próxima da família, como uma empregada doméstica, por exemplo, passa a fazer o papel de cuidador.
Os sentimentos gerados pelo adoecimento do idoso, as alterações na dinâmica familiar e na rotina diária, associados às novas informações relacionadas ao cuidado do idoso, causam um grande impacto emocional. A família precisa se organizar para o novo cenário, que inclui pessoas exercendo o papel de cuidador, frequentemente, sem nenhuma formação. Quanto mais informação sobre os detalhes do cuidado a ser prestado naquele caso e sobre a melhor forma de se relacionar com o idoso, respeitando sua autonomia e independência, melhor o resultado para o idoso, para os cuidadores e para o contexto familiar.
O preparo técnico e emocional do cuidador contribui para maior segurança no exercício da função e no relacionamento com o idoso e com os familiares.
4. Talvez uma maneira de amenizar a sobrecarga de cuidadores familiares seja dividir um pouco os afazeres.
Maria Alice Lelis - Sim, sem dúvidas. Cada núcleo familiar é diferente e em algumas situações a família já consegue se organizar fazendo um revezamento entre os familiares para assumir o papel de cuidado ao idoso. Mas, na maioria das vezes, um familiar assume o papel de cuidador do idoso, por diferentes razões, como proximidade parental (ex: esposa, filhas), proximidade física (mora na mesma casa ou mora na mesma região), proximidade afetiva ou maior tempo disponível. É importante que os demais familiares entendam a complexidade da adaptação emocional e de aprendizagem de novas habilidades para o exercício do cuidado ao idoso, e encontrem maneiras de aliviar a sobrecarga do familiar que assumiu o cuidado ao idoso. Os familiares também podem aprender sobre os cuidados, e exercê-los em alguns períodos, bem como contribuir com sugestões e com ações que melhorem a qualidade de vida do idoso e do cuidador principal. Constituir uma rede de apoio é fundamental, assim como fazer uso das ferramentas e dos produtos mais adequados para cada situação de cuidado.
5. Você pode citar exemplos?
Maria Alice Lelis – Sim. Por exemplo, no caso de idosos que usam fralda geriátrica, quando se utiliza um produto de boa qualidade, ele absorve a urina adequadamente, o que ajuda a prevenir a dermatite associada à incontinência, conhecida popularmente como assadura. Já quando se utilizam produtos de qualidade inferior, o que deveria ser apenas uma troca de fraldas pode acabar se transformando em um momento de grande incômodo, com a necessidade de banho, troca do pijama, de toda a roupa de cama, além do desconforto e – o mais grave – o risco de lesões na pele, como a dermatite associada à incontinência, caso o idoso fique com a urina ou fezes em contato prolongado com a pele.
6. Para terminar, qual mensagem podemos deixar aos cuidadores nesse Dia Nacional do Cuidador de Idosos?
Maria Alice – Acho muito importante a gente fazer uma homenagem aos cuidadores nesse dia e aproveitar para chamar a atenção para o fato de que há um enorme espaço a ser ocupado também pelos homens nessa função. Temos um dado da Fiocruz de 2021 que aponta que 92% das pessoas que cuidam no Brasil são mulheres. Queremos prestar nossa homenagem a todas as pessoas que atuam como protagonistas do cuidado, que se dedicam à função de cuidar de idosos, essa atividade que demanda muita dedicação e carinho. Registramos aqui todo nosso respeito e reconhecimento a vocês.
1 Care and functional disabilities in daily activities – ELSI - Brazil. Rev. Saúde Pública [Internet]. Disponível em https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2018052000650.
2 Cuidadores de idosos e tensão excessiva associada ao cuidado: evidências do Estudo SABE. - Disponível em https://doi.org/10.1590/1980-549720180020.supl.2.
FONTE TENA Brasil